"O Brasil ainda não havia se recuperado da derrota para o Uruguai, por 2 a 1, na partida final da Copa do Mundo de 1950, jogada no Rio de Janeiro, amargando o título de vice-campeão, quando veio a segunda decepção nacional. Martha Rocha, a mais linda mulher vencedora de um concurso de beleza no país, também ficou em segundo lugar na disputa do título de Miss Universo de 1954. A baiana de 21 anos, 1,70 m de altura, 58 kg de peso, 59 cm de cintura, olhos azuis transparentes e sorriso luminoso, que vestia elegante maiô Catalina, perdeu a coroa para a norte-americana Myrian Stevenson, em desfile realizado na praia de Long Beach, Califórnia.
Teoricamente, foi preterida porque apresentava duas polegadas ou cinco centímetros a mais nos quadris (97 cm) em relação ao busto (92 cm) - e isso era negativo. Ninguém por aqui entendeu os dois reveses. No futebol sempre jogamos melhor e mais bonito do que o Uruguai. Bateram-nos na raça, em pleno estádio do Maracanã, porque entramos em campo com a presunção da vitória e eles transformaram a camiseta na bandeira da pátria. O caso de Martha Rocha também parecia incompreensível. No Brasil, sempre consideramos virtude uma mulher ter quadris avantajados.
Hoje se sabe que o motivo foi outro. Os juízes elegeram Myrian Stevenson porque a população norte-americana estava se desinteressando pelo concurso de Miss Universo e os patrocinadores ameaçavam retirar os milhões de dólares que o sustentavam. Uma norte-americana no trono daria novo fôlego ao espetáculo, o que efetivamente aconteceu. Quanto às duas polegadas a mais, não passaram de uma invenção do reporter João Martins que cobriu o evento para O Cruzeiro do Rio de Janeiro.
O jornalista Accioly Netto, diretor de redação da revista na época, revelou isso no livro O império de papel - os bastidores de O Cruzeiro (Porto Alegre: Editora Sulina, 1998). Afirmou que eu enviado especial combinou com a versão com outros colegas brasileiros presentes em Long Beach, afim de consolar o estraçalhado orgulho nacional. 'Na volta, todos (...) guardaram o maior segredo sobre a mentirinha', garantiu Accioly. Martha Rocha autorizou a versão. 'Nem eu soube se essa história das duas polegadas teria sido verdade mesmo', assegurou a eterna Miss Brasil em Martha Rocha - uma autobiografia, ditada a Isa Pessoa (Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1999).
'Ninguém nunca me apresentou uma versão convincente sobre o detalhe que ficaria famoso - aquele que foi sem talvez nunca ter sido'.
Um consolo mais doce veio de Curitiba, a capital do Paraná. Ali, o pâtissier Jesus Alvarez Terzado, um espanhol da Galícia, dono da Confeitaria das Famílias, até hoje em funcionamento na rua XV de Novembro, rebatizou sua antiga torta de fondant com o nome de Martha Rocha. Fez isso pela consternação observada no rosto da mulher, a brasileira Dair da Costa Terzado.'Foi um consolo para mim, que estava inconformada com a injustiça da perda do título de Miss Universo, e um sucesso total para a confeitaria', comentou ela após a morte do marido, ocorrida em 1984.
O doce continua a ser feito ali e em todo o país. Caiu no gosto público, sobretudo no sul e sudeste. É preparado pelas avós, mães, tias e madrinhas do interior quando fazem aniversário ou recepcionam netos, filhos, sobrinhos e afilhados residentes na capital, apesar do risco de proporcionar duas polegadas a mais aos que abusam de suas fatias.
O doce continua a ser feito ali e em todo o país. Caiu no gosto público, sobretudo no sul e sudeste. É preparado pelas avós, mães, tias e madrinhas do interior quando fazem aniversário ou recepcionam netos, filhos, sobrinhos e afilhados residentes na capital, apesar do risco de proporcionar duas polegadas a mais aos que abusam de suas fatias.
Curiosamente, a homenageada jamais o saboreou. 'Não gosto muito de doces' explica Martha Rocha. 'Certa vez, em Porto Alegre, deram-me uma de presente. Mas como precisava ficar na geladeira, deixei-a lá sem experimentar'. Mesmo assim, julga a homenagem simpática. 'Espero que a façam sempre bem e que todos a apreciem', diz. No fundo, porém, a eterna Miss Brasil gostaria que a elaboração da torta Martha Rocha se restringisse ao âmbito doméstico e fica um pouco incomodada ao vê-la comercializada. O problema é que a difusão da torta se tornou incontrolável.
Torta Martha Rocha
Ingredientes
Massa
10 ovos
1 copo de açúcar
2 copos de farinha de trigo
1 colher de chá de fermento em pó
100 g de chocolate em pó, sem açúcar
margarina (para untar)
Creme de ovos
500 g de açúcar
1,4 l de água
25 gemas
1 copo de leite
Crocante de nozes e castanhas
1 kg de açúcar
200 g de nozes picadas
200 g de castanhas picadas
Nata
500 g de creme de leite fresco, gelado
3 colheres de sopa de açúcar
1 colher de chá de rum ou de essência de baunilha
Calda de açúcar
2 xícaras de chá de açúcar
2 xícaras de chá de água
2 colheres de sopa de rum ou maraschino
Montagem
1/2 xícara de chá de doce de leite
1 disco de suspiro comprado pronto
Preparo
Massa
Bata as claras em neve firme. Bata as gemas e adicione aos poucos o açúcar, batendo até obter ponto de gemada. Acrescente lentamente a farinha com o fermento. Despeje metade dessa massa numa tigela e misture o chocolate em pó. A outra parte da massa ficará branca.
Divida pela metade as claras em neve e misture-as às massas delicadamente, cada uma numa tigela. Coloque cada massa em forma untada com margarina. Asse em forno médio, por cerca de 30 minutos. Retire, espere amornar, desinforme e divida cada uma das tortas em duas partes obtendo quatro discos no total.
Creme de ovos
Ferva o açúcar com a água em fogo brando até obter uma calda em ponto de fio. Passe as gemas na peneira e misture-as à calda. Ponha o leite e deixe ferver em fogo brando, por cerca de cinco minutos, até obter consistência de creme.
Crocante de nozes e castanhas
Leve o açúcar ao fogo mexendo até obter o ponto de caramelo. Junte as nozes, as castanhas e ferva em fogo brando por dois minutos. Retire do fogo, espalhe em mármore até que esfrie. Pressione o rolo de macarrão sobre o caramelo, triturando-o para obter o crocante.
Nata
Na batedeira, bata em velocidade média por dois a três minutos o creme de leite gelado com o açúcar, até obter um creme denso. Misture o rum ou a essência de baunilha.
Calda de açúcar
Leve o açúcar e a água ao fogo e ferva até obter uma calda rala. Adicione o rum ou o maraschino.
Montagem
Disponha um disco de massa escura sobre um prato redondo. Umedeça com a calda de açúcar e recheie com um pouco da nata e do crocante. Reserve o restante desse recheio para a cobertura. Coloque por cima um disco de massa umedecido com a calda de açúcar e recheie com o creme de ovos. Faça uma terceira camada com um disco de massa escura, umedeça, recheie com o doce de leite e disponha por cima o disco de suspiro. Finalize com o último disco de massa branca umedecido e cubra toda a torta com a nata e o crocante restantes. Sirva a torta gelada".
LOPES, J. A. Dias. A rainha que virou pizza: crônicas em torno da história da comida no mundo. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007.
Parabéns deve ter ficado uma delícia!!!
ResponderExcluirbj
Maura
Que torta maravilhosa!
ResponderExcluirUma bela homenagem!
andreaquitutes.blogspot.com/
bjs,Andréa...
Que mulher lindíssima!!!
ResponderExcluirUma dádiva da natureza brasileira!!!
Salve a BAHIA, mãe deste monumento!!!